Em meio a tanto abandono, já espiando a morte, ela guarda sentimentos!
Dentro de seu peito magro, com o arcabouço à amostra já desfigurado pela invasão do tumor, há a vergonha da mulher, da mãe que não pode ser e ela reluta em pedir ajuda aos filhos. Não entendendo, procurei a resposta:
"- Tenho vergonha de mostrar como estou, eles não sabem o que me tornei." Confessou-me com lágrimas nos olhos.
O MEU PENSAMENTO VOA,
VAI ENCONTRAR-TE, NUMA SIMPLES LEMBRANÇA.
O QUANTO EU GOSTARIA DE ABRAÇAR-TE,
DAR-TE OS BEIJOS E O ABRAÇOS QUE GUARDO COMIGO,
AQUELES QUE NÃO PUDE DAR, QUE TIVE QUE OCULTAR.
E O AGORA CHEIO DE SAUDADE,
TOMA O LUGAR DE UM PASSADO QUE NÃO CONSIGO ESQUECER.
Não quero sair daqui,quero permanecer imóvel,
Tenho medo de perder-me e não mais encontrar-me.
Foi este o modo que achei para viver,
Modo de esquecer que um dia fui tua e fostes meu.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
E vieram os cortes, os ramos caídos. E, se nunca mais nascessem folhas, se ela morresse, não teria importância nenhuma, havia dezenas, outras iguais a ela.
Mas mesmo ferida, criou uma cicatriz, procurando manter a sua integridade, a sua vida. E ela permanece ali, querendo dar sombra, dar folhas e frutos, mostrando para quem a observa, como se faz na vida.
Ela voltou às ruas,sorrindo, fugindo, parecendo um animal arisco.
Trouxe um presente e correu, dizendo que não teria mais como escapar. Gritei que ela não se amava mais, que perderia seus filhos, que não voltasse às ruas. Ela abraçou-me, consciente, balbuciando que seus filhos estariam melhor longe dela.E voou como uma gaivota sobre o mar, livre para a morte. Chorei com raiva, com amor.
Lembrei - me do seu pré-natal, da luta que travava com as drogas para ter um filho sadio. Nasceu uma menina linda, com saúde e ela parecia ser a mulher mais feliz.
Mas voltou a drogar-se, até o seu dedo indicador mostrar sinais de necrose. Voltou, pedindo socorro, ficamos uma manhã conversando, nos abraçando e ela foi. Eu, somente fiquei sabendo notícias de sua vida.
“-Ela é outra pessoa, está outra pessoa, é dócil, ajuda os outros pacientes.”
Por meses ela ficou segura, protegida, engordou, o dedo quase se recuperou, era outra pessoa. Outra mulher, defendo seus filhos como uma leoa, até hoje, pela manhã, quando a vi voar procurando a morte, outra vez.
Ainda sinto o teu corpo ao meu corpo colado;
nos lábios, a volúpia ardente do teu beijo;
no quarto a solidão, desnuda, ainda te vejo,
a olhar-me com olhar nervoso e apaixonado...
Partiste!... Mas no peito ainda sinto a ânsia e o latejo
daquele último abraço inquieto e demorado...
- Na quentura do espaço a transpirar pecado,
Ainda baila a figura estranha do desejo...
Não posso mais viver sem ter-te nos meus braços!
- Quando longe tu estás, minha alma se alvoroça
julgando ouvir no quarto o ruído dos teus passos...
Na lembrança revejo os momentos felizes,
e chego a acreditar que a minha carne moça
na tua carne moça até criou raízes!...
E, quando eu for, o que farão com as cartas, as fotos, os desabafos que guardei comigo, e só comigo? Invadirão a minha alma, os meus segredos, e nada saberão da tal veracidade, da intensidade que representam para mim. São muitos anos vividos na imensidão dos meus sentimentos, perdida em sonhos que não se realizaram e que numa invasão de privacidade, que realmente não terá mais razão de ser, serão jogados numa lata de lixo, ou guardados numa caixa, que não abrirão mais, dentro de um armário, ocupando um espaço.
E, num determinado dia, talvez, queimem os meus sonhos, os meus desafabos, porque a ninguém mais pertencerão.
Aproveitando a dica da minha amiga Dorotéa K.Motta.
Non Je N'ai Rien Oublie (tradução) Eu nunca pensei que nos reencontraríamos A coincidência é curiosa, faz algumas coisas E o destino por um momento faz uma pausa Não, eu não esqueci nada
Eu sorri contra minha vontade, só de ver você Se os meses e os anos, muitas vezes, marcam os seres Você não mudou, o cabelo, pode ser. Não, eu não esqueci nada
Casado, eu? Bobagem, eu não tenho nenhuma inveja. Eu amo a minha liberdade e, então, você e eu. Eu não encontrei a mulher da minha vida Mas vamos tomar uma bebida, e você me fala sobre você
O que você costuma fazer? Está rica e bem de vida? Mora sozinha em Paris? Mesmo depois do casamento? Entre nós, seus pais devem ter morrido de raiva Não, eu não esqueci nada
Quem me diria que um dia, sem querer De repente o destino nos colocou frente a frente Eu pensei que tudo estava morto com o passar do tempo Não, eu não esqueci nada
Eu não sei o que dizer ou por onde começar São muitas recordações, que invadem minha cabeça E o passado vem das profundezas da derrota Não, eu não esqueci nada, nada.
Na idade em que lutei por meu amor com todas as armas Seu pai, por você ter outras ambições Destruiu nosso amor e fez com que chorássemos Para escolher um marido melhor pra sua situação.
Eu queria ver você, mas você estava presa Eu lhe escrevi cem vezes, mas sempre sem resposta. Demorei algum tempo para desistir Não, eu não esqueci nada
O tempo é curto e o café já vai fechar. Vou apenas te levar pra casa, passando pelas ruas desertas. Como no tempo dos beijos que eu te roubei à sua porta Não, eu não esqueci nada
Cada estação era a nossa estação do amor E nós não temíamos nem o inverno, nem o outono É sempre primavera, quando se tem vinte anos Não, eu não esqueci nada, nada.
Foi muito bom sentir a sua presença Eu me sinto diferente, como se fosse mais leve Muitas vezes precisamos de um banho de adolescência. É doce voltar às fontes do passado
Eu queria, se você quiser, sem querer forçá-la Ver você de novo, enfim ... se possível Se você quiser, se você estiver disponível Se você não tiver esquecido Como eu, que não esqueci nada.
Há seis anos que não ouço tuas poesias, Os boleros que acompanhavas, cantando. São os abraços, que procuro, Sentindo o perfume das tuas roupas. Quanta falta, quanta saudade de ti que levo comigo. Quanto de mim levastes, contigo
Todos estavam reunidos ao acaso,
O medo era o comum entre todos.
Que tinham em comum para terem a mesma sentença?
Não estariam outra vez, os mesmos, ali.
A cada um que saia, ficava a dúvida se ele voltaria.
A cada retorno a mesma preocupação: - Como é que foi?
Não havia a mesma preocupação na voz que chamava à porta: - Seu fulano, seu beltrano.
Cada um era testado três vezes. Então ouviam vinte e quatro vezes, vinte e quatro nomes, de uma maneira impessoal.
O que a clínica esqueceu, foi de que ali estavam pessoas comuns, que têm sonhos para sonharem, que desejam o amor, que amam a vida, além de terem um coração.