Diante da constituição de 1988, estamos constrangidos, envergonhados, por atravessar a rua diante desta população de rua, desta sociedade formada pela fome, pela sede, pelo vicio, pelo abandono de seus parentes, pela insanidade mental muitas vezes gerada em defesa do seu próprio eu, pelo não cumprimento dos nossos deveres.
Sociedade que nasceu da igualdade do mau cheiro do seu próprio corpo, das doenças não tratadas, dos parasitas que alimentam. Sociedade que busca alimentação em meio ao lixo, da sociedade alheia.
Alheia, porque teve direito a educação, a saúde, a alimentação, ao trabalho, a moradia, ao lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância.
É muito difícil, sim, conviver com a vergonha da nossa omissão. Fazer saúde sentindo o cheiro dos seus corpos, das suas fezes, vendo as moscas pousarem de lá para cá, é constrangedor, é ameaçador.
Convivemos com o medo dos traficantes, que se aproveitam, com o medo de sermos assaltados. Sim, porque o vicio as drogas, ao álcool, gera “fissura” que gera a violência. Podemos ser as vitimas das vitimas.
Não estamos pedindo que “tirem” os moradores da nossa rua e que os deixem em outro lugar, no mesmo desamparo, no mesmo abandono, sem os seus direitos a cidadania. Não queremos deixar de ver a omissão da qual somos também responsáveis, queremos que esta sociedade de rua, gerada na miséria, seja educada, tenha saúde, tenha alimento, tenha trabalho, tenha casa, tenha lazer, tenha segurança.
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