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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Populaçaõ de Rua



Ela voltou às ruas,sorrindo, fugindo, parecendo um animal arisco.
Trouxe um presente e correu, dizendo que não teria mais como escapar. Gritei que ela não se amava mais, que perderia seus filhos, que não voltasse às ruas. Ela abraçou-me, consciente, balbuciando que seus filhos estariam melhor longe dela.E voou como uma gaivota sobre o mar, livre para a morte. Chorei com raiva, com amor.
Lembrei - me do seu pré-natal, da luta que travava com as drogas para ter um filho sadio. Nasceu uma menina linda, com saúde e ela parecia ser a mulher mais feliz.
Mas voltou a drogar-se, até o seu dedo indicador mostrar sinais de necrose. Voltou, pedindo socorro, ficamos uma manhã conversando, nos abraçando e ela foi. Eu, somente fiquei sabendo notícias de sua vida.
“-Ela é outra pessoa, está outra pessoa, é dócil, ajuda os outros pacientes.”
Por meses ela ficou segura, protegida, engordou, o dedo quase se recuperou, era outra pessoa. Outra mulher, defendo seus filhos como uma leoa, até hoje, pela manhã, quando a vi voar procurando a morte, outra vez.

Um comentário:

Odessa Valadares disse...

É tão difícil, não é? Essa gente (nós) que faz do trabalho extensão de si mesmo e vai fazendo uma família em cada lugar que trabalha. Então, quando me perguntavam por que não tenho filhos, eu respondia que os filhos dos outros já me ocupam tempo demais.

(todo mundo é filho de alguém, e eu também os levava comigo, ao fim de cada dia)