Tenho uma proposta. Que tal, "fazer de conta" que nunca nos encontramos, nunca nos vimos, nem fomos apresentados, muito menos, nos falamos ou, olhamos um para o outro?
Voltemos no tempo para buscar aquele instante mágico em que nos cruzamos e, cristalizá-lo como um vitral de alguma catedral. Que fique na memória do passado a nossa história de amor.
Assim, poderemos fazê-la primeira e única, novamente.
Marquemos encontro num ponto qualquer:- um "coffee shop", uma rua íngreme de Porto Alegre, uma pousada em Gramado. Pode ser ao acaso e pode ser proposital. Tanto faz, desde que nos vejamos.
Entreguemos, pois, ao destino a artimanha desse (re) encontro.
Faremos tudo antes como se nada houvesse acontecido depois.
Nessa nova e inédita história não haverá silêncios constrangedores, palavras inadequadas, gestos desvairados, ternura demasiada, cobranças exageradas.
Aquela porta fechada com força e com raiva não mais se repetirá. O adeus lacerante e doloroso, sem maiores explicações, ficará sepultado no plano do "nunca mais", naquela gaveta cerrada do esquecimento.
Aliás, repetições ficam, desde já, permanentemente proibidas.
Seremos, estritos e extremamente, coerentes com o sentimento que, por certo, transbordará de nós, sem remorsos, culpas, reticências. Principalmente, as reticências desaparecerão.
Saberemos, com clareza, reconhecer o valor da simplicidade dos gestos e dos silêncios.
A cumplicidade irrestrita e plena será a tônica desse relacionamento. Melhor dizendo, dessa paixão. Porque seremos apaixonados um pelo outro como nunca dantes se ouviu falar.
Um início, partindo da estaca zero, tabula rasa.
O fato inegável de estarmos, ainda, vivos (pelo menos, aparentemente), nos permite a chance de realizar o que, intensamente, está implícito em nossas peles e almas.
Falando em intensidade, é ela o fator que desencadeará essa estréia. A intensidade nos afetos, assim como na vida, é o que assegura e justifica a minha proposta.
Dispensável é crer em ti ou em mim. Trata-se de acreditar no que foi intenso e autêntico em meio a tantos descaminhos, pelos quais nos perdemos de nós. Nunca do sentimento.
A duração, o tempo medido, não importa. O que foi vivido está arrolado como testemunha no processo da existência pela intensidade do que foi sentido. Os momentos são únicos e exclusivos quando são lembrados pela força das marcas que deixaram.
E então? Onde e quando nos encontraremos pela primeira vez?
Maria Alice Estrella (Nasceu em Porto Alegre)
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