Ele a trouxe com tanto carinho ao consultório. Seu amor tão delicado, gentil após sessenta anos de casamento, era de uma grandeza tal, que tudo à volta ficou tão pequeno que nem percebido foi.
Após uma discussão com sua filha, ela resolvera esquecer a sua personalidade e até o homem que amava tanto. Esquecera de seus filhos para sobreviver à dor maior de ter sido ofendida por um deles. Sua memória fora perdida e reencontrada na sua infância onde seria mais fácil sobreviver à perda de si mesma, onde seria a criança que também sofrera até agressões por parte de sua mãe, que quebrara o seu nariz com um tapa, mas que em escala de grandeza perdera para a dor, tão doída, da ofensa.
Ele, com seus 87 anos, ignorava a ausência da amada, relatando que ela não esquecera um dia sequer de seu almoço. Falei-lhe que teria que ser forte para conseguir ver sua amada afastando-se, entregue a cenas quase infantis, fugas pelo portão da rua, amontoando roupas pela casa. Ele, calado, triste, dizia querer achar a cura para ela, iria para uma cidade maior, onde houvesse uma esperança. Manteria a esperança de ser amado, até o fim, pela mulher que ele tanto amava.
Um comentário:
Mal de Alzheimer é nossos pais se tornam nossos filhos.
(concordo que é mais doloroso pro companheiro, sem dúveida)
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